Diferença Sexual – Sou Homem. Sou mulher
A identidade é formada por fatores dados e por fatores que são criados. Os fatores que nos foram dados e os fatores criados não são capazes de determinar quem sou eu, quando vistos de maneira isolada, porque o ser humano precisa ser visto como um todo e não dividido em partes.
Mas para explicarmos o que forma nossa identidade é necessário falarmos de cada parte que forma o ser humano integral, por isso vamos falar de sexo e gênero.
Sexo
- Sexo genético (quais os cromossomos que tenho?)
- Sexo gonádico (tem presença de ovário ou testículo?)
- Sexo neuropsicológico (organização dos circuitos cerebrais que está condicionada pelos hormônios esteroidais, que são produzidos nos ovários e testículos, são eles: estrógeno, testosterona e progesterona)
- Sexo Genético
Quais os cromossomos que eu tenho?
Somos livres em escolher algumas coisas, como por exemplo, a cor da calça, o tênis que vou usar hoje, mas nem tudo eu posso escolher, concordam? Pois existem certas condições que nos são dadas. Os pais que você tem ou o país onde você nasceu, você pode escolher? Não.
O que nos foi dado, os fatores genéticos, durante a vida intrauterina, isso é chamado de sexo genético. Isso nos foi dado.
Então no momento da fecundação, o espermatozoide (gameta masculino) transporta um cromossomo X ou Y, já o ovócito (gameta feminino) contém um cromossomo X, portanto as possibilidades de aparecimento gamético serão XX ou XY ( Fig. 8), feminino ou masculino, respectivamente.(3,4)
- Sexo Gonadal
Tem presença de ovário ou testículo?
Uma vez definido o sexo genético, o embrião caminha progressivamente de forma indiferenciada durante seu desenvolvimento, sendo impossível identificar o sexo gonadal e genital, ou seja, a presença de ovário ou testículo e vagina ou pênis.
No caso do homem, além de existir um cromossomo Y, é necessário que contenha nesse cromossomo um grupo de genes que se chama SRY, que é responsável pela presença dos testículos nos homens. Mas esse grupo de gene, nem sempre está presente no cromossomo Y, desse modo não haverá testículo.
É importante entender que não basta ter XY, o SRY tem que estar presente no Y. E é a ativação desse grupo de genes SRY que diferencia os embriões masculinos. Portanto se há testículo, temos células de Leydig e se temos essa células, temos testosterona, e se temos testosterona, temos 3 eventos: desenvolvimento dos ductos acessórios (deferente e epidídimo), desenvolvimento de genitais masculinos externos e desenvolvimento de certos núcleos cerebrais.
Até 1995 existia muita confusão, porque dizia-se que até o terceiro mês de vida intrauterina os embriões homens e mulheres eram iguais. Mas hoje sabemos que o material genético presente em ambos os embriões masculino e feminino são completamente diferentes, desde o momento da fecundação, mesmo não sendo identificar por imagem o sexo do feto antes dos 4 meses de gestação, mas é possível identificar nas primeiras semanas de gestação, através de um exame de sangue específico a quantidade de cromossomos X e Y presentes, confirmando a diferença que existe já no momento da fecundação.
Isso me fez lembrar um pergunta que fiz ao menino de 9 anos: perguntei para ele, porque é bom ser homem? E rapidamente me respondeu: ´Eu me sinto legal em ser homem. Porque sou diferente da mulher.’
- Sexo neuropsicológico
No processo de construção da nossa identidade, a identidade sexual nos é dada por natureza, ou seja aquela informação biológica, a condição genética que inclui o fato de ser homem ou mulher e se manifesta nas gônadas, mas também se constrói com o sexo neuropsicológico, assinalando profundas diferenças.
Vivemos na era da conexão, na internet não temos fronteiras para nos conectarmos. E por incrível que pareça, a adolescência é um dos grandes períodos em que o cérebro está aberto para criar novas conexões a qualquer estímulo que o afete, seja positivo ou negativo. Isso é muito importante. A adolescência é um momento de singularidade especial na configuração sexual da pessoa, ou seja na construção de sua identidade sexual, não acontecerá nem antes, nem depois.
Diversos estudos mostram esta característica importantíssima na adolescência, onde a sexualidade está afetando o comportamento, na forma de sentir, emocionar, conhecer, pensar e etc.
Para o adolescente é mais difícil ter respostas, juntando a emoção e a razão, pois está acontecendo a integração dessas áreas cerebrais. Imaginem um emaranhado de fios de cobre desencapados ligado na tomada, o que acontece? Começa a sair faísca, a energia não é conduzida de maneira adequada, porque os fios precisam estar envolvidos por uma capa de plástico resistente, para que assim consigamos, por exemplo, colocar um celular para recarregar.
O cérebro do adolescente está como esses fios desencapados, muitos estímulos, muitas informações de dentro para fora e de fora para dentro, chamamos isso de mecanismos de organização neuronal: mielinização (fios estão sendo encapados), poda neuronal (fios estão sendo cortados), formação de espinhas dendríticas (novos fios estão se formando para ajudar na conexão) e apoptose (fios estão sendo retirados para sempre, ou seja, a morte programada de alguns neurônios). Quem faz tudo isso? Os hormônios gonadais, estrógenos e testosterona são responsáveis por organizarem e ativarem esses circuitos neuronais.
Diante de todas essas mudanças, vocês acham que os adolescentes precisam de uma direção? Sim, precisam, pois por causa de tudo isso os adolescentes apresentam um delírio de perseguição (sempre comigo, só briga comigo. Nunca me dá atenção, só meu irmão, meu amigo que recebe atenção), possuem um pensamento abstrato (vivem em outro planeta); sofrem com a pressão do grupo no qual ele faz parte, ou seja, esse grupo exerce uma influência muito grande nas suas decisões, nas suas vidas; e apresenta um sentimento de invulnerabilidade, ou seja, imagina que isso vai acontecer comigo, sou invencível, sou forte, não tem perigo não.
Por isso o grande desafio da adolescência é a integração entre o afeto e a razão.
Falamos do sexo, mas a nossa identidade pessoal também é formada pelo gênero.
Gênero
O que é o gênero? É o entorno sociocultural e as experiências de vida das pessoas, ao modo de sentir, pensar, comportar-se e relacionar-se de acordo com o sexo biológico, que nos é dado.
A interação de sexo biológico e gênero forja a identidade sexual, parte essencial da nossa identidade pessoal. Quem é responsável por assumir a identidade pessoal? Cada pessoa deve assumir a sua própria identidade.
O que acontece hoje em nossos dias, qual o grande problema, a grande briga?
Temos pessoas que insistem fortemente, que são os genes que determinam minha identidade e outras pessoas que insistem fortemente que não tem nada que me seja dado e que não há nenhuma diferença, e que o gênero é o que define quem somos.
Nem um, nem o outro, minha identidade será influenciada tanto pelas coisas que me são dadas quanto pelas coisas que estão no meu entorno social, as experiências vividas. Quem sou eu é um conjunto entre aquilo que me é dado e aquilo que eu vou criando na minha vida, ou seja, vou vivenciando.
A teoria do gênero diz: que o ser humano é autossuficiente e faz o que quer, e quando quer. E que o seu único limite é sua incapacidade técnica. Mas que superando a incapacidade técnica, é autossuficiente consigo mesmo e que não existem diferenças dadas, ele pode ser o que quiser.
Já a teoria da sexualidade humana diz: que não somos autossuficientes. O limite é ser criatura e que ser criatura nos leva a dizer um sim a criação. E desse modo a nos integrar a essa criação que nos foi dada, não só a criação externa (animais, céu, mar, plantas, pessoas), mas integrar a nós mesmos no nosso ser, integrando nossa razão e a nossa emoção. E daí então nos integrar ao entorno, por isso somos seres em relação conosco mesmo e com os outros seres.
Nós recebemos a nossa sexualidade para encontrar com um outro, estabelecer um relacionamento, e vejam porque a sexualidade constitui a parte fundamental do mistério do humano, somos limitados porém transcendentes, por isso vamos mais além de nós mesmos.
Portanto, não existe o ser humano indeterminado, mas sim o que existe é o homem e a mulher. E para construir nossa própria identidade, devemos primeiro conhecer a nós mesmos e assumir quem somos.
A natureza do ser humano não é uma realidade estática, mas dinâmica. A visão que queremos mostrar é uma visão integradora. Certamente que a atuação da pessoa humana é transformadora da natureza, mas é transformadora para aperfeiçoá-la. Acolher o recebido e aperfeiçoá-lo, em vista de que vou crescer como pessoa. Acolher implica reconhecer e valorizar o recebido. Recebo meu corpo, minha história…. Aperfeiçoar implica trabalhar a partir do recebido, porém para fazer melhor o que já é. Deste modo, uma novidade em continuidade é alcançada pela pessoa. ( Carl Rogers)
Fabiana Azambuja, educadora, Especializada em Antropologia Personalista, pela AEP e responsável pelo Programa de Afetividade e Sexualidade para crianças e adolescentes Teen STAR.
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